OPINIÃO
2018 tem tudo para ser muito melhor
Germano Rigotto
Desnecessário lembrar que vivemos, nos últimos anos, como que uma tempestade perfeita. Uma das maiores crises econômicas já enfrentadas pelo país se encontrou com um gigantesco turbilhão político. A onda de quebradeira e recessão visitou tanto o setor público quanto o privado. Nos governos, pegou a União, os estados e os municípios. Na sociedade, praticamente todas as empresas tiveram diminuição de faturamento. Não foi diferente com instituições e organizações civis das mais variadas matizes.
A crise entrou na casa dos brasileiros. O desemprego chegou a 14 milhões de pessoas. Muitas famílias viveram situações dramáticas. Bens de consumo secundários foram preteridos, fazendo cair o movimento do comércio e dos serviços. A diminuição da renda gerou um efeito cascata: todos gastaram menos, logo todos ganharam menos. A mendicância visivelmente aumentou nas ruas. O círculo vicioso da recessão rodou de maneira completa. Descrença geral.
No final deste ano, alguns indícios de melhoria começaram a ficar mais concretos. Já haviam se prenunciado durante o primeiro semestre, mas não passavam disto: tímidos prenúncios. Agora temos pelo menos dois elementos muito consistentes: o juro chegou aos patamares mais baixos da série histórica e a inflação segue sob controle. Ao lado disso, o mercado se movimenta mais e o desemprego retrocede levemente. A roda começou a girar para o lado certo novamente.
Precisamos ter os pés no chão, pois ainda estamos bem longe de uma situação minimamente confortável.
Mas quando o país já não está mais ladeira abaixo, é sinal concreto de que o ciclo negativo encerrou ou que sua pior fase já passou. Animicamente, é inegável que a confiança está um pouco maior, seja nos mercados ou nas famílias, bem como a credibilidade externa do país. Medidas acertadas, como o teto de gastos, foram criando balizas importantes de recuperação da economia.
Infelizmente avançamos pouco nas reformas. A previdenciária ficou para o ano que vem. A trabalhista andou, mas num patamar apenas mediano. A tributária, a rigor, sequer foi tocada – há apenas uma vã promessa de que seja enfrentada. Os grandes temas do país, como o pacto federativo ou o corte de gastos internos do governo, não foram enfrentados. A suposta reforma política sofreu o risco de produzir algo pior do que já existe, e por isso refluiu. O Brasil melhorou na conjuntura, mas manteve os mesmos problemas na estrutura.
Na política, a propósito, a agitação se manteve – e não tende a cair em 2018, ano de eleição. As denúncias colocaram no banco dos réus grande parte da classe política. Os que estiveram fora das denúncias acabaram caindo na vala comum da generalização. A descrença nos políticos e nos partidos tomou conta de quase toda a população. E o governo Temer, mesmo tendo formado uma sólida maioria parlamentar, enfrentou enormes dificuldades por ter apenas legitimação jurídica, mas não social. Venceu dois pedidos de impedimento, mesmo assim não conseguiu criar um esteio de aceitação e diálogo com a população.
Portanto, se não tivemos estabilidade em 2017, ao menos os fatos caminharam numa boa direção. Assim, 2018 tende a ser um ano de consolidação da recuperação econômica do país e de normalização da situação política. O pleito de outubro vai reestabelecer os marcos políticos, apesar do ambiente propício a aventureiros e radicais. A baixa de juros inevitavelmente continuará aquecendo o ambiente dos negócios e gerando empregos. Talvez não se avance tanto quanto gostaríamos, mas, no geral, os rumos do ano que vai nascer tendem a ser positivo. E, ademais, já é hora de sacudir a poeira da crise, recuperar nossa autoestima, jogar a bola para frente e acreditar novamente no Brasil.
Então, feliz ano novo para todos nós!
Germano Rigotto é ex-governador do Rio Grande Sul, presidente do Instituto Reformar de Estudos Políticos e Tributários e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República.